domingo, 13 de novembro de 2011

Chuva, silêncio e pensamentos.

Quando começou era sonho. Eram rosas e sorrisos, era esperança. Tardes de conversas e noites de abraços imaginados. Pôr do sol visto da areia gelada, a brisa fresca de paz e uma solidão contra a qual não podia lutar. Eram dias de felicidade, beijos e descobertas. Então Adeus e angústia. Sufocou. Quando terminou, foi desespero. Medo. Noites de tempestade, de insônia e lágrimas não compartilhadas. Uma certeza que não tinha, da qual não podia se desprender. Foi liberdade que não queria, confusão e momentos quase apagados da memória. Crescimento doloroso. Do recomeço veio incerteza. Da incerteza, certeza. A mudança trouxe realidade e realidade era tudo o que queria. Nua e crua. Talvez cruel, talvez difícil; mas real e não imaginada. Noites de conversas e risadas, abraços não só sonhados. Pequenos momentos compartilhados, olhares que mais ninguém compreendia. Paixão. Hoje? Hoje é amor. Amor que não foi inventado, amor que cresceu aos poucos. Que recebeu carinho e foi se entrelaçando assim, devagar, em sua alma. Hoje é amor mais forte, mais maduro, mais imperfeito e menos explicável. Mais amor do que sonho. Mais realidade. Mais felicidade.

ps: Da chuva e do silêncio, percebi (não pela primeira vez) que nunca estive tão feliz quanto nos últimos meses. Leia como uma pequena declaração :)
ps²: Sei que vocês preferem sangue e morte, mas deixem meu eu-romântico ser feliz.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Like Romeo

(...)

–– She’s a bitch, isn’t she?
–– Kind of. –– Disse, soltando uma risada desanimada.
–– Você gosta mesmo dela?
–– Mais do que eu imaginava ser capaz. –– Confessou, amarga. –– Muito mais do que eu gostaria.
–– Como Romeu?
–– Como Romeu. –– Respondeu, e Julie suspirou. Fizera a pergunta propositalmente e entendeu, só por conhecê-la, que a morena nunca havia se doado para alguém, acreditado em alguém como estava fazendo com aquela garota. Sentiu-se preocupada.  –– Talvez mais.

Under The Stars, Chapter 22

ps: Aos que conhecem a história, aconselho ler em inglês e imaginar o sotaque britânico da Nick. Bem mais legal.

domingo, 30 de outubro de 2011

Still in my heart.

Bebo um gole de café e observo centenas de papéis brincando pelo ar quando dois jovens se esbarram. Eles imploram por desculpas, envergonhados, e seus olhos se cruzam por um momento, trazendo uma sensação estranha e inexplicavelmente boa para ambos. Típica cena de filme, tão clichê. Seria o destino? Volto ao mesmo local todos os dias, sento-me na mesa redonda ao fundo e peço mais um café. Puro e amargo. Encontro àqueles dois jovens diariamente, em pessoas diferentes. Casais com personalidades, gostos e rostos distintos, mas sempre com o mesmo começo, meio e fim. Acompanho a rotina que os leva ao romance. Olhares e desejos, sorrisos e toques singelos. Um lindo buquê de rosas vermelhas. O amor acontecendo diante dos meus olhos sempre foi a minha parte favorita.
Amor? Mas que amor? Vejo quando os sorrisos começam a desaparecer. As rosas acabam mortas no chão, pisoteadas e pouco importantes. As conversas se tornam silêncio e as palavras se tornam gritos de raiva reprimidos. Às vezes demora meses para acontecer, outras apenas algumas semanas ou até alguns dias. Acompanhada de mais uma bebida, assisto o despedaçar de um coração. Então escrevo. Escrevo porque a dor é inspiradora; porque só um escritor conhece a frieza (ou a coragem?) de converter as lágrimas suas e alheias em contos ou poesias.
            Vejo mundos caindo, o amor sendo destruído dia após dia, mas então o pôr do sol machuca meus olhos e eu sorrio sozinha. É nesse momento em que sempre penso em você e me sinto em paz. Sinto-me em paz porque sempre percebo que, um piscar de olhos ou anos depois, eu ainda te amo. Ainda sinto você no meu coração. E na minha alma.


ps: meio baseado em fatos reais.  Sem mais.
ps²: VOLTEI :) Comentem, hunf. 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Stupid question!


Valeu à pena? – Que pergunta ridícula e estúpida! Eu me sinto crescer. Talvez começando a me tornar a pessoa que quero ser. Sinto o gosto da liberdade nos lábios. Sinto-me orgulhosa de mim mesma; de minhas escolhas. De não desistir. Perguntam-me também se estou bem e não sei decidir se esta é mais estúpida do que a primeira. Meus olhos encontram os dela e um sorriso brinca nos meus lábios quase sem querer. Toda a paz que eu achava que sentia é pequena perto da que sinto agora. Toda a vontade dela que eu sentia é pequena perto da que sinto agora; quero-a perto de mim o tempo inteiro, a cada segundo. Todo o amor que eu achava que sentia é pequeno perto do que sinto agora, talvez por isso as palavras para descrever me escapem furtivamente. Sonhos se tornam realidade e outros são planejados para que também se tornem. Esperança me domina e nenhuma turbulência é forte o suficiente. Será tudo isso possível? – Que pergunta ridícula e estúpida!

domingo, 24 de julho de 2011

I love to hate you.


ps: continuação do I  hate to love you

(...)         A opção B está mais próxima da realidade, porque Nichole realmente não cedeu ao apelo da baixinha e foi ver o jogo de futebol, mas o Manchester não perdeu o jogo e a britânica ainda foi ao vestiário acompanhada de Lílian e ambas acabaram dando autógrafos para filhas, primas e irmãs dos jogadores. Quanto ao resto dos acontecimentos das opções?
         Bem... Se você conhece essas duas, sabe como as coisas SEMPRE terminam.





         Os seguranças nem precisaram pedir uma confirmação da dona da casa, simplesmente abriram o portão ao reconhecer o carro de Nichole Goodrich. A morena estacionou à frente da entrada da grande residência e desceu do carro. Sua voz estava rouca por tanto gritar no jogo, estava cansada e um tanto sonolenta, mas não se importou com isso. Antes de pegar o vôo de volta para Paris, passara em seu próprio apartamento para tomar um banho e trocar de roupa. Usou sua chave reserva – porque Sophia sempre perdia a dela em algum cômodo – para abrir a porta da frente e encontrou as luzes do hall principal apagadas. Acendeu apenas as lâmpadas que formavam uma iluminação fraca e seguiu até a mesma sala em que havia brigado com Sophia mais cedo.
         A televisão estava ligada, mas apenas os créditos finais de algum filme iluminavam a tela. A britânica deu a volta no sofá, encontrando sua pequena namorada deitada sob um cobertor. Não pôde evitar abrir um sorriso fraco. Sobre a mesa, uma caixa de bombons recheados estava vazia e uma garrafa de vinho branco estava pela metade. Filme, chocolate e vinho. Tão clichê, mas tão típico daquela garotinha. Aproximou-se, agachando-se em frente à ela.

–– Hey... –– Sussurrou, tocando-lhe de leve no rosto enquanto repousava um embrulho sobre sua barriga. –– Sophy?

–– Uhm... –– Gemeu, abrindo os olhos. –– Achei que você estava na Inglaterra.

–– Estou com você agora. –– Respondeu, sorrindo.

–– Goodrich... –– Estava meio tonta e aquele sorriso parecia fofo demais. Talvez não devesse ter bebido.

–– Desculpa. –– Falou, vendo-a sentar devagar. –– Eu não deveria ter saído daquele jeito, nem colocado um jogo de futebol em primeiro lugar, mas prometo que agora sou toda sua até o final das férias e... –– Apontou para o buquê de rosas vermelhas que havia colocado sobre as pernas da pequena. –– Trouxe isso para você.

         Sophia hesitou. Olhou para as flores, para a namorada  e então para as flores de novo. Suspirou, resignada.

 –– Você é uma idiota.

–– Eu sei. –– Sorriu, sabendo que ela estava cedendo.

         A morena levantou do chão, sentando-se no espaço livre ao lado da namorada, e envolveu um dos braços nos ombros dela. Puxou-a para si e beijou-a com calma na testa, antes que a pequena erguesse um pouco o rosto e permitisse que seus lábios se encontrassem. As mãos de Sophia se apoiaram na barriga de Goodrich e, segundos depois, ela suspirou.

–– Reservei uma mesa num restaurante da torre Eiffel. –– Nichole falou, afastando-se apenas o necessário. –– Nós podemos ter um jantar romântico com vista de Paris inteira e depois caminhar por ai, até encontrarmos algo legal para fazer. O que me diz?

PAUSA NA NARRAÇÃO
Pensamentos de Sophia Lawrey.
(leia em Francês)

         Ainda estou brava com ela e ela vai ter que se esforçar muito se quiser algo mais esta noite. Ela continua sendo a mesma britânica arrogante, idiota, babaca, egoísta e infeliz de sempre; mas quem garante que estas não são algumas das coisas que me prendem a ela? Além desses olhos verdes completamente meigos me encarando com tanta intensidade, é claro. Tudo bem que ela provavelmente tem um motivo maior para tudo isso – leia-se: sexo –, mas e daí? Quem disse que a minha pior namorada do mundo não pode ser extremamente fofa e romântica, só porque sabe que vai me agradar? E ela sempre está certa em relação a mim.

CONTINUANDO A NARRAÇÃO

–– Parece uma boa idéia. –– Cedeu, aconchegando-se mais nos braços fortes de Nichole e fitando as rosas de seu buquê.


PS: Você, leitor que por acaso não conheça essas duas, talvez pense que Sophia cedeu com facilidade demais. Não se engane e entre em contato com um leitor que as conheça perfeitamente bem. Porque alguém que as conheça sabe que resistir a Nichole Goodrich com um buquê de rosas e seu sotaque britânico sexy pode ser mais difícil do que... Bem, pense numa coisa impossível para você. 

ps: Creditos aos nomes dos dois textos à @marylazarini

sexta-feira, 22 de julho de 2011

I hate to love you


         O sol morno de uma manhã gelada despertou a moça deitada na grande cama de casal em que estava esparramada. Apesar de preguiçosa, um sorriso bobo marcou seus lábios antes mesmo que abrisse os olhos e enquanto se esticava toda para se espreguiçar. Não havia nenhum motivo no mundo para que pudesse acordar de mau humor: A banda da qual fazia parte era um tremendo sucesso mundial, seu nome estava estampado em centenas de revistas sobre celebridades – freqüentemente nos topos de listas inúteis como as mais sexys – e havia tido uma noite fantástica, espetacular e inesquecível com a namorada-noiva mais linda, gostosa e perfeita de todas. Por incrível que pareça, nada até aqui foi ironia, embora esta história não vá continuar tão linda e perfeita por muito tempo.

         Sophia Lawrey girou o corpo na cama, agarrando o travesseiro ao seu lado. Ele possuía o cheiro de um perfume já bem conhecido e de champanhe e ela sorriu sozinha, sentindo o estômago reclamar de fome. Pôde quase sentir o gosto dos inúmeros pães, croissants e doces matinais que eram típicos na França. Só precisava caminhar até a padaria mais próxima, fazer seus pedidos e aproveitar o melhor café da manhã do planeta – ou pelo menos melhor do que o dos ingleses. E daí se era uma das pessoas mais ricas e famosas do planeta? Ainda era francesa demais para esquecer da tradição de aproveitar o café da manhã tranqüilamente, como Americanos aproveitavam os jantares em restaurantes caros que estão na mira dos paparazzi.

         Empurrou os cobertores para o lado, pisando descalça no chão e seguiu completamente nua até o banheiro amplo da suíte principal da casa. Apesar do frio, o sistema de aquecimento mantinha todos os cômodos numa temperatura razoável. Tomou um banho rápido para vestir uma calça jeans justa com uma bota de bico fino de salto baixo e cano curto, uma blusinha de mangas compridas com o Mickey e a Minnie estampados e um sobretudo cinza por cima de tudo. Sejamos sinceros: Ela demorou muito mais tempo arrumando o cabelo, que àquela altura estava loiro com as pontas pintadas de rosa claro (incluindo a franja) e finalmente seguiu por um corredor longo de paredes claras, até uma escada circular de mármore que levava ao andar inferior.

         É aqui que a história começa a mudar de rumo porque, querido, o tal café da manhã idealizado não acontecerá. Não como o planejado, ao menos.

         Antes mesmo de terminar de descer as escadas, Sophia ouviu a voz de Nichole, provavelmente falando ao telefone. As portas de vidro gigantes de uma das principais salas estavam abertas, então ela pôde ver a namorada de costas, sentada num sofá de veludo vermelho que ficava bem diante de uma TV de plasma que ocupava grande parte da parede. A pequena se aproximou, jogando os braços por cima dos ombros da britânica e beijou o pescoço dela; vendo a pele se arrepiar enquanto ela se esquivava um pouco e fazia um gesto rápido para pedir silêncio. Beijar o pescoço de alguém não é uma boa maneira de dizer bom dia a não ser que você seja intimo da pessoa, então não tente fazer isso com algum desconhecido que você encontre num café.

         A francesa deu a volta no sofá e se jogou ao lado da morena, observando o notebook da Apple verde-berrante que ela tinha no colo. Havia uma janela aberta, num programa de mensagens instantâneas. O nickname de Lílian Davis estava escrito no alto da tela e Sophia só precisou ler uma mensagem da janela: “Tem Manchester hoje!”.

         Agora, caro leitor, é que a coisa fica feia.

–– Bom dia, little S. –– Sorriu ao desligar o celular, fechando o notebook e se inclinando para beijar a namorada nos lábios, mas ela segurou um de seus ombros. –– O que foi?

–– Por que você estava contatando um jatinho particular?
         Há uma grande diferença entre Sophia brava-fofa e Sophia brava-puta. Isso quer dizer que quando ela não está realmente brava, ela apenas faz uma cara de criança mimada para conseguir o que quer, mas acaba rindo dois segundos depois. Quando ela está realmente brava, suas sobrancelhas se erguem e as íris azuis se tornam intensas e cortantes. Além disso, Nichole sabia que sua voz subia dois tons e se tornava bastante ríspida. Como estava acontecendo naquele momento. A inglesa tentou ganhar tempo colocando o notebook sobre a mesinha central e coçou a nuca rapidamente. Ao voltar a fitar a baixinha, sua voz se manteve calma, tentando evitar uma briga logo pela manhã.

–– Vai ter um jogo do Manchester às três. –– Explicou, embora ela já soubesse. –– Lil ganhou entradas dos organizadores para todas nós, mas Jul e Jill não vão, é claro...

–– E nem nós! –– Cortou-a. –– Porque estamos de férias na França.

–– Serão apenas algumas horas, Sophy. –– Argumentou.

–– Nós podemos assistir ao jogo pela televisão.

–– E qual é a graça?

–– Qual a graça de ver vinte e sete car...

–– Vinte e dois. –– Corrigiu-a, rindo. –– E a graça é a mesma que você vê em ir ao fashion week.

–– Completamente diferente. –– Grunhiu, estreitando os olhos. –– Mas não é o caso. Nós combinamos Nick! Nada de Inglaterra pela próxima semana, nada de banda, compromissos, vida sob holofotes e afins. Só a gente!

–– Ainda vai ser só a gente, baby. –– Sorriu, usando um tom de voz manso que quase convenceu a baixinha. –– Eu estarei de volta em algumas horas.

–– Mas...

–– Shh! –– Repousou o indicador sobre os lábios da pequena, e em seguida beijou-a rapidamente, tendo certeza que ela havia cedido. –– Você pode aproveitar o dia para passear pela cidade, quem sabe encontra algo que a gente possa aproveitar à noite, hm? –– Concluiu, piscando um dos olhos de maneira maliciosa.

PAUSA NA NARRAÇÃO
Pensamentos de Sophia Lawrey.
(leia em Francês)

         EU GOSTARIA DE PEGAR ESSE MALDITO ROSTINHO BONITINHO COM ESSE MALDITO SORRISO MALICIOSO E JOGÁ-LA CONTRA A PORCARIA DA PAREDE! PODE ALGUÉM NO MUNDO SER MAIS IDIOTA E EGOISTA DO QUE NICHOLE GOODRICH? ALGUÉM CONSEGUE SER UMA NAMORADA PIOR DO QUE ELA? POR QUE ESSA INFELIZ, BABACA BRITÂNICA ARROGANTE NÃO PERCEBE QUE NEM TUDO SE RESUME A SEXO? SERÁ QUE ELA NÃO PERCEBE QUE O INTUITO DO MALDITO PASSEIO PELA CIDADE É NÓS APROVEITARMOS UM POUCO O TEMPO DEPOIS DE TRÊS FUCKING MESES COM PELO MENOS TRINTA PESSOAS À NOSSA VOLTA O TEMPO INTEIRO TODAS AS NOITES E DIAS? ARGH!

CONTINUANDO A NARRAÇÃO

–– Bien. –– Sussurrou, depois de ter respirado fundo algumas vezes, levantando-se para se afastar da namorada. –– Por que você já não continua lá até o final das férias?

         Nesse momento da história, se você não conhece essas duas, pode imaginar que:
 a) Nichole se sentiu culpada, pediu desculpas e as duas acabaram utilizando as horas que seriam perdidas num jogo de futebol para ficarem na cama.
b) Nichole não cedeu ao apelo da baixinha, foi ver o jogo de futebol e Sophia nunca mais a perdoou. De tal maneira, terminaram o namoro e conseqüentemente a banda e o Manchester ainda perdeu o jogo naquele mesmo dia.




ps: LAWRICH (L)  só vou postar a continuação se tiver comentários u.u façam suas apostas, opção A ou B?  hehe





quarta-feira, 20 de julho de 2011

About true love

Vestindo apenas a roupa debaixo, parou em frente ao espelho de corpo inteiro no canto do quarto. A barriga formava uma saliência já um tanto grande, típica de gravidez, e foi lá que seus olhos se perderam. Sorriu em silêncio e deslizou as mãos pela própria pele de maneira suave, querendo que a criaturinha lá dentro pudesse sentir. Seria possível que já pudesse amar, antes mesmo de conhecer? E sentia que não amava pouco; amava grande e inocente. De coração inteiro, ansiosa para conhecer. Como já amava uma única pessoa antes daquela criaturinha.
Sentiu, um pouco assustada por ter estado tão distraída, o calor do corpo pouco mais alto que o seu em suas costas e se aconchegou no abraço; contente. Os braços da outra envolveram sua cintura e as mãos escaparam por baixo das suas, acariciando sua barriga da mesma maneira que fizera anteriormente. A outra repousou o queixo em seu ombro e beijou delicadamente seu pescoço, de maneira carinhosa, por só um instante. Os olhos de ambas se encontraram através do espelho e toda uma cumplicidade cheia de paz gritou em silêncio.
– Eu te amo. – A outra sussurrou.
Sorriu mais uma vez. Sabia que aquela frase não fora direcionada para ela, pelo menos não apenas para ela; mas não se sentiu mal. Muito pelo contrário: Sua pergunta anterior fora respondida.

ps: blog novo, coloquei os posts do outro nesse, só exclui alguns :)
ps²: 2.10 <mhify3 

terça-feira, 12 de julho de 2011

I won't say goodbye anymore

(postado originalmente em 7 de junho de 2011)

Paz. E uma pontada de esperança. Felicidade, talvez. Sorri boba, incontrolável, sentindo-me quase idiota. Teu sorriso parece ainda mais lindo quando posso vê-lo todos os dias. E as palavras, os segredos compartilhados e as brincadeiras que terminam em gargalhadas parecem muito mais atraentes. É que fazer parte da tua vida, da tua rotina e de ti sempre foi vontade insaciável da minha alma. E tudo parece fazer sentido quando meus olhos encontram os teus e se perdem ali. A saudade não dói tanto sabendo que você está ali, tão perto. Tão minha. Teu perfume e tua pele quente me roubam a sanidade. Sei que te amo, mesmo que amor soe tão simples perto do que sinto por dentro: Todo o desejo, todo o carinho e todo o cuidado. Toda essa vontade de você e de cuidar de você e de te ver feliz. É que toda a espera, todo o medo, todas as lágrimas e a dor dilacerante de cada despedida parecem ter valido à pena agora que não preciso mais te dizer adeus. 

O casulo

(postado originalmente em 13 de maio de 2011)

A alma se esconde num casulo. Um paraíso pacifico quase completamente impenetrável, onde cada parte de nosso ser se encontra. Os trechos de nossas histórias se erguem em paredes infinitas, como num gigante corredor de biblioteca que nunca termina. Impossível de ser completamente lido, completamente descoberto. Cada experiência que passamos entra para este corredor. Cada lágrima que escapa dos olhos e cada gargalhada que os lábios deixam soltar. Nele se encontram as descobertas, as decepções, as maiores felicidades e também as maiores tristezas. Ali também se escondem cada um de nossos pensamentos e desejos. Desde os mais superficiais até os mais secretos, aqueles que temos medo de repetir até para nós mesmos. O casulo é quente e aconchegante, sua luz é própria e não incomoda os olhos. É perfeito para cada um de nós e quase não aceita estranhos, lugar onde podemos nos esconder de todo o mundo quando mais precisamos. Lugar de solidão agradável, onde nossa alma se sente mais em casa, onde nos sentimos melhor. Nosso esconderijo secreto. Este esconderijo, pela alma ser tão difícil de ser tocada, não sofre com as mudanças exteriores. Nem com as pequenas alterações e nem com os grandes terremotos; há apenas paz lá dentro – e a essência do que somos. Nossos amigos e nossa família não chegam a ultrapassar suas barreiras de proteção, ficam protegidos num pequeno, especial, inesquecível e também aconchegante espaço. Essa medida de segurança do próprio casulo talvez indique o quão perigoso é abalar toda a paz e quietude interior que guardam a alma.
Um dia, alguém surge. Alguém passa desapercebido e se atira para a parte mais intima de você. Às vezes este alguém se atira por inteiro, às vezes atira apenas uma fagulha de si, um fio de cabelo que seja. Seja como for, você não está mais sozinho e alguém caminha pelo corredor daquela sua infinita biblioteca. Alguém se deita no seu casulo e aprecia sua luz própria enquanto ouve seus pensamentos e desejos mais íntimos.
Neste dia, sua alma é alcançada e seu mundo nunca mais será o mesmo.

Dear mom

(postado originalmente em 8 de maio de 2011)

Meus olhos nasceram de ti e de mim você renasceu; uma ligação que mais ninguém pode entender. Lembro-me de um dia acordar no escuro da madrugada e gritar desesperada. Lembro-me de você chegando, poucos minutos depaois. Tonta de sono, mas sempre ali, pronta para me abraçar e dizer que tudo estava bem, pronta para me distrair e me fazer rir. Pronta para me levar dormir na sua cama, caso fosse necessário. Meus medos infantis às vezes se convertiam em doenças, às vezes em machucados e às vezes em manha de criança eterna. De qualquer jeito, em qualquer ocasião e não importando a hora, você sempre esteve ali. Nunca me desapontou. Com toda a sua preocupação exagerada, todos os teus abraços e apertos intermináveis e os teus mimos incontáveis, você espantou todos os meus medos e cuidou de mim sempre que precisei. Até quando não precisei você esteve lá, só para garantir que estava tudo bem, ou para me segurar caso eu caísse. Sei (e sinto) que teu amor foi – e ainda é – tão incondicional que nenhum ser humano tem a capacidade completa de entender, apenas de sentir. Sei (e sinto) que, assim como aconteceu até hoje, você estará sempre aqui para mim. Que sempre terei o teu abraço para me esconder. Sei que você é uma das únicas verdades e um dos únicos esconderijos seguros e imutáveis da minha vida e por isso sou e serei eternamente grata. Esta gratidão não sei como expressar, exceto pela maneira mais clichê (e ainda assim mais verdadeira, devo dizer) de todas: Você é a melhor mãe do mundo e eu te amo do tamanho do universo – com a inocência e sinceridade de uma criança que abre os braços para a mamãe e acha que o universo inteiro pode existir ali.

ps: feliz dia das mães pra todas as mães, principalmente pra minha :) Ficou simpleszinho, mas taí u.u
ps²: ATUALIZAÇÃO, AMÉM!

December days

(postado originalmente em 24 de abril de 2011)

(...) A neve ainda caía lá fora e embora o aquecedor do quarto estivesse desligado, nenhum lugar do mundo poderia parecer mais quente ou aconchegante do que aquele cômodo. Mesmo quando aqueles incontáveis segundos terminaram, os músculos de Sophia relaxaram e a baixinha repousou as mãos sobre o pescoço da morena; os olhares continuaram perdidos um no outro da maneira mais intensa que já tinha acontecido desde o primeiro encontro. Talvez tenham permanecido daquela maneira por apenas um instante estendido por uma eternidade silenciosa e cúmplice, talvez o tempo realmente tenha se arrastado enquanto estiveram perdidas numa realidade paralela, mas nenhuma das duas nunca saberia explicar aquele momento. Nichole usou um dos cotovelos para se apoiar na cama e voltou a deitar completamente sobre a francesa, sentindo-a estremecer e se sentindo arrepiar com o contato quente entre as peles nuas. Deixou seus lábios roçarem aos dela, sentiu os dedos da menor deslizarem pela curva de seu queixo e o contato se tornar um beijo de verdade; calmo, longo e infinitamente carinhoso.


rascunho de algum capitulo de Under The Stars

ps: por algum motivo, essa cena me lembrou Innocence inteira. Os que conhecem a história entenderão rs
ps2: como é lawrich, é provavel que eu apague em três, dois...

A menina e a flor

(postado originalmente em 9 de abril de 2011)

O céu amanheceu cinza hoje. O centro da cidade parece um lugar fantasma, ninguém caminha pelas ruas irregulares de paralelepípedo e as fachadas dos casarões antigos transformados em vendas e bares estão fechadas. Há uma sensação de solidão pairando no ar. Sento-me num banquinho de madeira na praça principal, instalado sob um carvalho gigante cujas raízes racham parte das calçadas. Seus galhos se contorcem em dezenas de direções sobre a minha cabeça enquanto as folhas produzem um farfalhar continuo ao serem castigadas pelo vento. Cruzo as pernas. Puxo a jaqueta para mais perto do corpo para me proteger do frio e olho para a construção que se ergue à minha frente: Não é imponente ou poderosa como os prédios atuais feitos com milhares de janelas de vidro, mas tem uma beleza singular. As paredes são simétricas, as portas gigantes de madeira possuem detalhes entalhados à mão e a pintura está um pouco gasta. Por dentro, a igreja matriz da cidade é ainda mais bonita e cheia de detalhes. Suspiro. Há uma sensação de nostalgia pairando no ar. Não sei se gosto ou não de toda esta sensação, todos estes pensamentos. Há certa paz e certa inquietude crescendo em mim ao mesmo tempo.
Do outro lado da praça, vejo uma garotinha caminhando. O cabelo castanho e liso está solto, há apenas um arco mantendo sua franja longe do rosto. Ela usa apenas um vestidinho azul bebê e uma rasteirinha branca, mas não parece sentir frio. Não deve ter mais de cinco anos, será que está perdida? Ergo as sobrancelhas ao vê-la se aproximando de mim. Há algo de familiar em seus traços, como se eu já a conhecesse, mas não consigo me lembrar de onde. Ou de quando. Quando ela chega perto o suficiente, percebo que carrega algo numa das mãos. Uma pequena flor.
– Oi? – Hesito ao perguntar.
– Oi. – Ela sorri de maneira doce. – Trouxe para você.
– Hm... Obrigada.
– É para que você não esqueça que nunca está sozinha.
Minha surpresa faz seu sorriso aumentar. Abaixo o olhar para examinar a flor que agora está em minhas mãos por apenas alguns segundos e, ao reerguê-lo, não a encontro mais em lugar nenhum que meus olhos possam alcançar.

O Amor e o Oxigênio.

(postado originalmente em 18 de março de 2011)

Tenho visto com certa freqüência dezenas de pseudo-cults que parecem achar bonito desacreditar do amor. Ridicularizá-lo. Desmerecê-lo como se isso resultasse numa espécie distorcida de superioridade solitária. Parte deste grupo não passa de adolescentes de quinze anos que tentam se mostrar auto-suficientes. Tão auto-suficientes que correm para o abraço da mamãe quando o namoro de dois meses termina. Este mesmo grupo também costuma fumar porque é bonito, parece reflexivo. Também bebem a torto e a direito porque parece inspirador. Colocam imagens de filmes e livros antigos e clássicos nas redes sociais, uma foto em preto-e-branco na imagem do perfil. Fingem que escrevem sobre suas vidas miseráveis e utilizam frases solitárias de autores consagrados para expressar todo o seu clichê. Não sorriem, não são felizes, gostam de fingir sofrimento. Isso, é claro, apenas no papel. Grande parte deste grupo gosta de usar uma frase que, como qualquer outra coisa que cai na boca do povo e da moda, começou a se tornar banal e repetitiva:
O amor é essencial?
Pois o oxigênio é ainda mais importante!
Aí de mim duvidar da importância do oxigênio! Minhas aulas de biologia durante o ensino médio serviram para mais do que trocar bilhetinhos, dormir ou conversar sobre aquele gatinho com quem me encontrei no final de semana, então eu sei bem a importância do oxigênio. Sobre a não-importância do amor, eu tenho uma simples pergunta: Do que vale uma vida saudável, repleta de OXIGÊNIO, sem o amor? Do que vale viver até os noventa anos, saudável, tornando-se uma pessoa mesquinha, fechada, infeliz e miserável?
Mas não se enganem. Não falo de amor que vocês sentem pelo garoto que conheceram na balada, que as fez sofrer e vocês conseguiram (depois de muito esforço!) esquecer. Uau, parabéns, vocês são muito fortes e auto-suficientes! Mas não é deste ridículo que vocês dizem amor de que falo. Falo do amor incondicional dos pais para com os filhos. Falo do amor que amigos VERDADEIROS sentem uns pelos outros. Falo do amor daqueles velhinhos casados há cinqüenta anos que ainda são felizes. E sim, falo também do amor romântico. Daquele que traz afeto, cuidado e desejo. Daquele que consegue resistir distâncias, barreiras e que consegue resistir ao tempo. Falo de qualquer tipo de amor, e não a paixãozinha de duas semanas que vocês julgam sentir. Falo de qualquer tipo de amor porque o ser humano precisa se conectar com alguém, precisa dividir suas dores e alegrias. É parte de nós. É por isso que vivemos em sociedade. É por isso que temos amigos, que nos sentimos confortáveis perto da família. É por isso que namoramos e casamos.
Eu desafio qualquer pseudo-cult que possa vir a ler este texto a tentar viver solitário, sem nenhum tipo de conexão com outros seres humanos. Apenas com o tão importante oxigênio. E eu desafio qualquer um destes pseudo-cults a, depois disso, dizer-me que podem viver bem e feliz apenas com aquilo que mantém seus corações batendo fisicamente.

Ps: Se você for um pscicopata, sociopata ou qualquer coisa do tipo, desconsidere esta postagem.

Agridoce.

(postado originalmente em 15 de março de 2011)

(...) Tinha medo também do que aquilo significaria para si mesma. Não que não gostasse o suficiente da menina de cabelo colorido, gostava demais. Ela não seria – e já não era – apenas mais uma qualquer, o que tornava tudo diferente de uma maneira gigantesca. Assustadora, mas boa. Agridoce.
Under The Stars, chapter 18.

A maravilha do livre arbítrio

(postado originalmente em 2 de março de 2011)

Primeiro a vodka. Ou a tequila, quando o dinheiro permite. Não se importa com o rótulo, nem com a cor, nem com o cheiro, nem com o gosto. Apenas com a ardência no peito e depois a sensação. Uma, duas, três... A conta nunca passa da quinta dose, o consumo varia dependendo da noite. Sempre mais do que meia garrafa. Depois do álcool, os beijos. As mãos, os abraços, a pele. O calor, tanto calor, tanto desejo. Tanto vazio. Em seguida, o quarto mais próximo. Ou uma cozinha, uma sala, um banheiro, um hall, um estacionamento, um carro, um canto na balada. Não se importa com o lugar, nem com o nome, nem com o rosto. Apenas com a luxuria, o sangue correndo depressa, o coração batendo como louco, a respiração descontrolada, os gemidos. Por fim, o êxtase. E então as memórias somem por completo.
Acorda sem fazer noção de tempo ou espaço. Sente alivio ao reconhecer a própria cama, mas não sabe como chegou lá. O relógio marca três horas da tarde e demora três segundos para se lembrar de que é domingo. E, exceto por uma presença solitária, a cama está vazia. Flashes da noite anterior retornam e a ressaca moral atinge o estômago com socos que fazem o álcool voltar aos lábios, amargo. Corre para o banheiro e, colocando para fora toda a bebida, também coloca as lágrimas. Porque a cama está vazia. Porque o corpo desconhecido e sem nome não tinha os lábios tão gentis, nem a pele tão macia, nem o toque tão certo, nem o beijo tão doce. O vazio disfarçado na noite anterior grita pela manhã. Volta até a cozinha e engole comprimidos para a dor de cabeça enquanto prepara um café forte. Sem açúcar.
O domingo é passado em frente à televisão. A segunda-feira lembra que há um trabalho para freqüentar. A terça-feira traz uma dor de cabeça insuportável. A quarta-feira aparece com insônia e nem abraçar os travesseiros imaginando aquele perfume doce ajuda. A quinta-feira vem para sair com os colegas após o trabalho, beber num bar qualquer e terminar no apartamento solitário. Enfim, a sexta-feira! Em visita ao terapeuta, faz a mesma pergunta de sempre: Por que?
(Por que fui trair àquela pessoa a quem amava? Por que não dei valor àquela pessoa que me amava; e a quem eu amava? Por que desisti? Por que parei de tentar? Por que nem tentei? Por que não tenho uma chance no amor? Por que não tenho uma chance profissionalmente? Por que as pessoas me fazem sofrer? Por que nada pode dar certo para mim? Por que minha vida é tão miserável? Por que não sou feliz?)
E apenas uma resposta me passa pela cabeça: Porque você quer, meu amor.
ps; Aprendi fazendo uma interpretação sobre um livro uma coisa que sempre quis usar: Sem nome (e no caso também sem sexo), qualquer pessoa pode ser ou se identificar com o personagem. Logo, não me culpem caso isso aconteça, fiz pensando em ninguém.
ps²: faz tempo que eu não apareço aqui, né? um beijo no coração (q) de quem comentar rrumar

Peace

(postado originalmente em 12 de fevereiro de 2011)

(...) Sentir sua respiração morna e o calor que o corpo emanava junto ao perfume leve ainda era indescritivelmente tentador, mas não havia mais culpa ou medo pelo que estava sentindo. Parecia apenas certo. Como se, depois de muito tempo, tivesse reencontrado sua paz. 

under the star 3.0, chapter 15

De você.

(postado originalmente em 31 de dezembro de 2010)

Saudade de você. Saudade do teu sorriso, da tua risada. Saudade da tua mão na minha, dos teus olhos nos meus, do teu corpo no meu. Da tua alma na minha. Saudade de você falando sem parar e do seu silêncio incansável. Saudade de você assistindo filme no meu colo, conversando no meu colo, cantando no meu colo, dormindo no meu colo. Saudade de você sempre no meu colo. Saudade dos teus olhos de chocolate, de criança que brinca e de mulher que também brinca. Saudade de te mimar, de te fazer carinho e de te fazer dormir. Saudade das nossas conversas sobre nada e do nosso silêncio sobre tudo. Saudade de você me fazendo rir, de você não me deixando dormir, de não te deixar dormir. Saudade de assistir televisão com você, de almoçar e jantar com você, de ir ao cinema com você, de não fazer nada com você. De sonhar com você. Saudade do seu cheiro de morango, da sua pele de morango, dos teus lábios de morango. Saudade do teu gosto de morango. Saudade dos teus beijos, dos teus abraços, das tuas mordidas. Das tuas marcas em mim. De você em mim. Saudade de você olhando minhas estrelas, redesenhando minhas estrelas. E se perdendo nas minhas estrelas. Nas suas estrelas. Nas nossas estrelas. Saudade de você nos meus braços, de você nos meus braços... De mim nos teus braços. Saudade das tuas caretas. Saudade de zelar teu sono, de olhar teu sono, de furtar teu sono. Saudade de você com ciúmes, de você me cuidando, de você me querendo. Saudade de te fazer carinho, de bagunçar teu cabelo, de brincar com o teu cabelo. Saudade de tudo em ti. Em nós. Saudade do que você me faz sentir, de não querer ir embora, da parte de mim que deixei com você (não a quero de volta, quero apenas mais perto; você mais perto, bem mais perto). Saudade de você.

ps: e que 2011 venha para acabar com ela.
ps²: As repetições são propositais. Eu provavelmente poderia colocar várias coisas mais no texto, mas fui fazendo sem pensar muito, então acho que ficou mais espontâneo. E sincero. Ficou meio perv e foi proposital. ... Ficou meio romântico e foi proposital. Duas partes de mim numa só.
ps²: Último post do ano, então: Feliz ano novo, galere :D

The best feeling

(postado originalmente em 28 de dezembro de 2010)

I wouldn't change a thing about it.
– Eu te amo.
Sua voz fraca soou num sussurro ao pé do ouvido, enquanto um sorriso marcava seus lábios e sua respiração irregular arrepiava a nuca dela. Sophia não conseguiu responder. Não por não sentir o mesmo – acredite em mim, ela sentia todas aquelas sensações confusas, intensas e tão agradáveis que se escondiam atrás daquelas três palavras – ou por não acreditar. O grande problema foi o nó apertando sua garganta, impedindo a voz de sair. Tinha aguardado, com toda a sua paciência forjada, por meses para ouvir aquilo outra vez, depois de tudo. Pegou-se surpresa e feliz – oh dieu, como estava feliz! – ao ouvir aquela declaração num momento inesperado. Por perceber que aquilo nunca antes havia soado tão sincero e verdadeiro.

ps: mini atualização com gostinho de Sophia Lawrey :3

Another dream

(postado originalmente em 24 de dezembro de 2010)

Dia vinte e quatro de um ano qualquer. Acordo e me deparo com os flocos de neve caindo do lado de fora da janela. É véspera de natal. Sonolenta e preguiçosa, desço as escadas e encontro todos tomando café da manhã. O rapazinho, elétrico, corre para me abraçar. A menina, presa numa cadeira de bebês, bate a colher de plástico em sua mesinha e estende a mão livre em minha direção. ‘Mamãe!’, ela repete. Eu sorrio. Afago a cabeça do menino, desorganizando seus pequenos cachos escuros, dou um beijo na bochecha gigante da garotinha na cadeira e me aproximo dela para beijá-la de leve nos lábios. Tomamos café da manhã juntos e depois decidimos vestir algo mais quente: As crianças ficam parecendo pequenos presentes embrulhados em tantas roupas, o que nos fez rir por algum tempo.
Então descemos para o jardim coberto de neve e aí é apenas festa. O rapazinho corre, cai e levanta novamente. Brinca de fazer anjos no chão, joga bolas de neve contra mim e eu revido só de brincadeira. Ele está feliz. A menina, pequena demais, fica segura no meu colo – ou no seu. Sentamos-na no chão e ela fala sem parar coisas incompreensíveis – está entrando nessa fase que nos diverte – e ri ao sentir aquela coisinha branca e gelada em suas mãos. Ela está feliz. Ela me abraça pelas costas e me aconchego em seus braços, em seu colo. Fecho os olhos por um momento e sorrio. Eu estou feliz e posso jurar que ela também está.
Passamos o resto da manhã brincando pelo jardim, enchendo-nos de neve e rindo das coisas mais simples. Perto do horário do almoço, entramos e comemos alguma coisa já pronta. O rapazinho corre para passar o restante do tempo em seu novo videogame, a menininha dorme depois da manhã cansativa. Eu e você temos uma tarde de preparativos para a noite. Arrumações, inicio do jantar. Pequenos estresses dos quais não podemos fugir, discussões sem importância das quais nos esqueceremos mais tarde. Tudo isso só nos lembra o quanto nossa vida não é perfeita e o quanto, exatamente por isso, ela se torna perfeita. Não quero que faça sentido – nós nunca fizemos; e mesmo assim ainda estamos aqui.
Mais tarde, nossos amigos chegam. As crianças já estão arrumadas para a ocasião, nós (mesmo sem acreditar que demos conta de tudo) também. Nossos amigos e família chegam. Um grupo não tão grande; apenas os mais especiais e seus respectivos pares. Todos babam nos nossos pequenos e nós apenas sorrimos; orgulhosas. O jantar é longo. Cheio de conversas, risadas e lembranças dos velhos tempos. Quando eles partem, as crianças já dormiram há tempos. Levamos-nas para suas camas, damos um jeito rápido na cozinha e deixamos a louça para lavar. Não queremos pensar nisso no momento. Então, descemos os presentes que estavam escondidos no armário e colocamos em volta da árvore de natal.
Por fim, tomamos banho e então o dia finalmente está (quase) acabado. Ela deita nos meus braços, procura meu colo para descansar o rosto e ri quando, apesar do cansaço, eu a provoco. Somos apenas nós duas novamente e nada parece ser capaz de estragar os nossos momentos de intensidade e cumplicidade. Eu sei que a amo como sempre amei, talvez mais e talvez de uma maneira melhor, depois de tanto aprendermos juntas sobre toda essa coisa louca de relacionamentos e amor. Eu sei que fiz a escolha certa desde o inicio e nada poderia estar melhor.
Na manhã seguinte, somos acordadas por um rapazinho agitado. Ele carrega a garotinha até a nossa cama e ela engatinha até estar diante de nossos rostos. Tenta nos acordar com palavras incompreensíveis enquanto ele cutuca nossos braços de maneira mais ávida e repete alegre: O papai Noel deixou os presentes na árvore!
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Parece que eu já sei o que pedirei para o papai Noel neste natal.

ps: feliz natal, gente :D

Let me love you

(postado originalmente em 12 de dezembro de 2010)

Deixa-me cuidar de ti? Quero estar aqui pra ver cada um dos teus sorrisos, comemorar cada uma das tuas vitórias e te segurar quando você cair. Confie em mim, conte-me todos os teus medos nessa tua mania incurável de falar mais do que qualquer outro ser humano parece ser capaz. Quero ver teus olhos brilhando como eu mais gosto: Daquele jeito puro e infantil, divertido e apaixonado. Sei que não é o certo, que eu não deveria te deixar tão mal acostumada, mas eu gosto de te proteger de todo o mal, de todas as dores e decepções. Às vezes gostaria de te proteger até de mim. Sei que não posso. Sei que te decepciono e que te machuco. Às vezes não por minha opção, como em cada uma das vezes em que preciso te dizer adeus, mas sei que posso te fazer chorar. E sempre que eu falhar e deixar algo te machucar, quero estar contigo. Mesmo que eu não saiba o que fazer ou o que falar. Mesmo que doa em mim te ver mal. Quero apenas te abraçar, quero que chore nos meus braços e quero sussurrar no teu ouvido o quanto eu te amo e que tudo vai ficar bem, mesmo que você não acredite em mim.
Se você deixar, quero ser o teu lar. Só pelo tempo que você quiser. Quero ser um tipo de esconderijo, onde você se abriga e evita todo o resto do mundo – como você já é pra mim. E depois de nos conhecermos mais uma vez, mais um pouquinho, quero que teu corpo descanse no meu, teu rosto protegido em meu peito enquanto ouve meu coração bater descompassado. Depois dos beijos, das respirações descompassadas e daquela cumplicidade indescritível, quero simplesmente envolver meus braços ao redor de ti. Quero que deite em meu ombro e durma tranqüila, sabendo que estará protegida. Sabendo que eu permanecerei acordada, acariciando seu cabelo e zelando seu sono. Cuidando para que nenhum sonho ruim te atrapalhe.
Quero apenas amar você da melhor maneira que eu puder.

Lights: On. Fear: Off #theend

(postado originalmente em 11 de dezembro de 2010)

– Abra os olhos.
Não fazia sentido. Aquela voz – sua voz – não deveria estar ali. Eu me recusei a abrir os olhos, tive medo que fosse apenas um sonho. Uma alucinação. Talvez eu estivesse bêbada demais. Minha mente leve e a garrafa de vodka vazia no chão me diziam algo sobre isso. Deixei que seu tom de voz suave, embora autoritário, envolvesse-me como sempre. E sorri.
– Abra os olhos. – Você repetiu. – Não queria lutar contra os seus medos?
– Não este. – Murmurei.
– Tudo bem então, mantenha-os fechados.
Senti sua mão envolver a minha com um arrepio agradável que percorreu todo o meu corpo. Só podia ser você. Real. Somente você poderia adivinhar os meus medos, aquele meu simples medo de abrir os olhos e você não estar ali. Mas como? Não fazia sentido. Você deveria estar morta. Deixei-me ser puxada, meus pés descalços tropeçando no nada vez ou outra. Eu não me importei. Sempre confiei você. Quando chegamos em outro cômodo, senti o piso gelado e imaginei estarmos no banheiro.
Meu coração estava batendo forte, rápido. Quando fora a última vez que eu o havia sentido realmente, sem precisar do medo ou da dor das pessoas que eu mais amei? Eu mal podia me lembrar. Mal podia lembrar da sensação de realmente estar viva, de realmente sentir algo. Talvez eu simplesmente seja um erro – e você a minha ligação com o mundo real. Senti a parede em minhas costas e seu corpo em minha frente. Prendi a respiração. Eu podia imaginar você sorrindo. Sua respiração em meu pescoço me arrepiou por completo, senti suas mãos apertarem de leve minha cintura e subirem pela barriga. Mordi o lábio. Suas mãos levaram consigo a minha blusa, até tirá-la por completo. O que diabos você estava fazendo?
Não tive coragem de perguntar. Joguei a cabeça para trás e me permitir suspirar, sentindo seus lábios descendo do pescoço para o colo. Você sempre teve o dom de me enlouquecer. Suas mãos desabotoaram minha calça sem dificuldade, puxando-a para baixo até tirá-la por completo. As pontas dos seus dedos roçando minhas coxas me fizeram perder a sanidade que eu não sabia se tinha. Seu nariz roçou no meu quando você se reergueu, nossas respirações se envolvendo devagar. Sem permitir que eu a beijasse, sua mão buscou a minha e me entregou um objeto gelado. Meu punhal.
– Você sabe o que fazer.
– Eu não...
Por favor, amor.
Estremeci. Por que eu não conseguia resistir a você? Enquanto os dedos de sua mão livre voltavam a acariciar minha cintura com carinho, levei o punhal até minha própria coxa para o que seria o último dos meus cortes. A ardência me fez gemer baixo e largar o objeto no chão, sentindo o sangue escorrer. Seus dentes apertaram meu colo; mordendo-me. Eu estremeci outra vez.
– Abra os olhos. – Murmurou, afastando-se de mim. – Abra.
Eu obedeci e meu coração bateu forte. O horror impediu que o grito escapasse de minha garganta, retraí o corpo contra a parede quase sem consciência. Estava escuro, mas não completamente. A luz vermelha escura iluminava parcialmente as máscaras e rostos de cera deformados presos às paredes, assim como as incontáveis máscaras de palhaços. Todos eles me encaravam, agourentos. Provocantes. Mórbidos. E de repente eu estava tremendo, assustada. Aquele era o gosto do medo, desta vez o meu próprio.
– Lute contra seus medos. – Você murmurou. – Não era este o objetivo?
É claro que você sabia. Conhecendo-me melhor do que ninguém, talvez até mesmo melhor do que eu mesma. Depois de ter lhe perdido pela primeira vez, eu percebi que não podia passar por aquilo novamente. O maior dos meus medos: Perder as pessoas a quem amo. Eu percebi que precisava lutar contra isso. Foi por isso que matei você e todos eles.
– O que eu devo fazer? – Perguntei, incerta.
– Entre na banheira.
– Você vai ficar comigo?
– Sempre.
Tentei não olhar para as paredes. Tentei ignorar a sensação de que havia algo me observando do escuro – algo além daquelas expressões contorcidas saídas dos meus pesadelos. Percebi, mas não prestei realmente atenção em alguns aparelhos sobre a pia, e entrei devagar na água. Estava gelada e senti algo gelado e pegajoso grudar em minha perna.
– O QUE DIABOS...
– Continue...
Sapos? Engoli o nojo que me dominou, sentindo o pequeno animalzinho se mover devagar em minha pele, mas minhas pernas haviam travado. Eu não podia continuar. Eu não conseguiria fazer aquilo. Então senti suas mãos em meus ombros nus, empurrando gentilmente naquela direção e simplesmente obedeci. Outra vez. Deitei-me completamente, a cabeça apoiada para o lado de fora e a água gelada me encobrindo até o pescoço. Minha expressão era de nojo, eu sabia disso. Ainda podia sentir as patas geladas e escorregadias se movendo pela minha pele. Sentando-se na beirada de mármore da banheira, você se abaixou em minha direção. Seus lábios tocaram os meus demoradamente e, por um instante, eu esqueci de todo o resto do mundo.
– Foi você quem escolheu.
Murmurou com os lábios ainda próximos dos meus e, ao se afastar, apertou um dos botões do aparelho sobre a pia. A corrente elétrica fez meu corpo contrair num espasmo violento e eu gritei. Quando a sensação passou, meu corpo ainda formigava. Meus olhos lacrimejavam. Eu quis levantar, mas não sentia força alguma. Busquei seus olhos e você sorria. Parecida demais comigo.
– Você acha que valeu a pena? – Perguntou. Havia raiva em sua voz. – De verdade?
– Eu precisava. – Murmurei.
– Precisava me matar? Matar seus amigos? Todas as pessoas que te amavam?
– Que eu amava.
– Faz parecer ainda pior.
Você apertou o botão novamente e eu gritei outra vez. Demorou mais. Talvez uma eternidade em alguns segundos. Meu coração poderia parar a qualquer momento. Minha respiração. Minha vida. Eu não soube por quanto tempo gritei. Não soube se minha voz continuou saindo ou se perdeu em algum lugar. Eu não podia ver, sentir ou ouvir nada além da dor. Quando acabou, eu tinha apenas metade de minha consciência. Vi seu rosto fora de foco diante de meus olhos – o rosto que eu tinha amado, se eu pudesse ser capaz disso. Eu tinha minhas dúvidas. Seus lábios tocaram minha testa uma última vez e suas mãos apertaram meus ombros, empurrando-me para baixo devagar.
– Por que você está fazendo isso? – Perguntei.
– Você sabe que eu não estou fazendo nada. – Você respondeu, fazendo-me mergulhar completamente na água. – Foi você quem escolheu. É você quem está fazendo isso. Você sabe que eu não estou aqui, amor. Você me matou.
Eu ia morrer. Não me importei com isso. Apenas fechei os olhos, sentindo meu pulmão arder em busca de ar enquanto suas mãos me prendiam firmemente no fundo da banheira. Eu sabia que você não estava ali. Você era apenas minha imaginação. Minha.
Mas não se deixe enganar. Esta não foi uma história sobre amor – foi uma história sobre medos.
Os seus e os meus medos.

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ps: caso alguém não tenha reparado, inverti o tiulo. Lights on porque não estava tudo escuro, Fear off porque ela morreu rs
ps¹: caso alguém não tenha entendido, a menina no texto não existe, está morta. Foi uma das vitimas anteriores... A assassina se matou, mas imaginou que a menine que ela amava é quem estava fazendo tudo aquilo.
ps²: acabou tudo :/ desculpem por não ter matado alguns de vocês, mas eu tinha que aproveitar a inspiração pra fazer o final... Espero que tenham gostado :P

The Melody

(postado originalmente em 6 de dezembro de 2010)

So brown eyes, I'll hold you near, 'cause you're the only song I want to hear
A melody softly soaring through my atmosphere.
Se eu pudesse, compararia com uma melodia no piano. Sem grandes explicações filosóficas, só porque eu gosto. Uma melodia para se ouvir de olhos fechados, luzes baixas e no silêncio de nossas respirações desritmadas, que me leva para um outro mundo. Um mundo apenas meu, compartilhado com você e todo o seu falatório. E todas as suas risadas. E todo o nosso amor. Seria uma melodia única. Calma, porém intensa. Que envolve, emociona e domina quem ouve. Cheia de altos e baixos para que nossos corpos dancem em ritmos calmos, rápidos e calmos novamente. Mas sempre juntos. Os pés descalços, as pernas entrelaçadas. As almas quase se tornando uma só. Uma melodia que faz o coração bater acelerado, que faz a mente girar num vazio inexplicável, que desafia as leis da física e torna a ciência inexplicável. Que, ao final, traz a tranqüilidade não explicada. A calma e a plenitude. Se eu pudesse, compararia com a melodia de uma canção sem nome. Ela seria a minha preferida. Não uma canção de amor, não uma canção dramática ou alegre. Sem nenhum clichê, sem nenhum rótulo. Só a nossa canção. Inexplicável e sem nome.

ps: música: Where Soul Meets Body
ps²: Meio aleatorio, mas só pra postar algo... Não apagarei pro @johnbubbles não me matar rs

Lights: Off. Fear: On #5

(postado originalmente em 21 de novembro de 2010)

Seus olhos se abriram e encontraram nada além da escuridão a envolvendo, no mesmo momento em que o cheiro fez seus pulmões arderem em horror. Tentou se mover, mas percebeu suas mãos e pés marrados à superfície mole em que você estava deitada. Durante segundos que lhe pareceram horas, não houve nada além do escuro e daquele cheiro de fezes e carne em decomposição. Sob você. Sujando sua pele, seu cabelo, talvez até sua alma. Seu estômago revirou, rejeitando àquela idéia terrível, mas você não pôde fazer nada além de tentar respirar com calma e pouco sentir. Nada além de tentar manter o controle. Tão típicos seu. Tão inútil.
– Você demorou para acordar. – Eu falei. – Estava ficando entediada.
Você estremeceu de susto ao perceber que não estava sozinha. Levantei-me, deixando o copo de suco na mesinha ao meu lado, e acendi a lanterna que tinha numa das mãos. A luz machucou seus olhos e eu a direcionei para a pequena caixa de madeira em que você estava presa. Iluminei a areia em que você estava deitada. Areia com fezes e o cheiro inconfundível e forte da urina de gatos. Os seus gatos. Duros, com os pelos dos corpos em decomposição roçando sua pele seminua. Ao perceber isso, seu corpo estremeceu num espasmo involuntário. Eu sorri, abaixando-me ao seu lado.
– Eu, se fosse você, tentaria não vomitar agora. Não terei o trabalho de limpar e isso vai ficar mais nojento do que já está. E não me culpe por isso, se você não fosse tão certinha, enjoada e organizada... Talvez o seu fim fosse mais digno. Mas eu acho que ele condiz com você.
Pisquei um dos olhos, divertida, levantando-me. Tão arrogante, tão cheia de si. Sempre acreditando ser superior aos outros. Sempre achando qualquer um indigno de sua atenção, amor ou perdão. No fim, você retornava exatamente ao que era: Nada.
– Quero fazer uma brincadeira com você. Roleta-russa, sabe?
É claro que sabia. Seus olhos se arregalaram, o horror exalando das íris escuras tanto quanto sua pele. Chegando até mim de modo puro e cru. Envolvendo a sala de medo, o seu medo. Meu relaxante natural. Retirei apenas uma bala e o revolver do bolso, colocando-a no tambor e o fechando. Em seguida, afastei-me um pouco e bebi mais um gole de suco de morango antes de pegar uma caixa encostada ao lado de minha cadeira.
– Já que você está impossibilitada de se mover, nossa brincadeira será um pouco diferente do que o normal. Nenhuma de nós sabe em qual posição está a bala e eu irei mirar em seis partes, vitais ou não, de seu corpo. – Fiz uma pequena pausa. – Acaba quando a bala for descoberta. Preciso avisar que doerá, sim, mas pode ou não ser um tiro fatal. Tudo depende da sua sorte.
Abri a caixa sobre você e algo – vários algo – atingiu seu corpo sem força alguma. Pequenos animais de patas ágeis, os rabos roçando sua pele enquanto subiam e desciam. Outros pareciam menores. Cheiravam-na, abrigando-se debaixo de seus braços, entre suas pernas, em seu cabelo curto. Quando você percebeu do que se tratavam – ratos e baratas de diversos tamanhos – o grito de horror finalmente escapou. Histérico. Descontrolado.
Eu não pude fazer nada além de sorrir, extasiada.
– Eu poderia tentar te dar alguma lição de moral. Falar o quão odiosa você consegue ser, quando quer. Falar sobre como você só acha que pode magoar qualquer um sem ser magoada. Sobre como você não é uma daquelas patricinhas das séries que gosta de assistir. Mas não ajudaria muito.
Distraída, mirei em uma de suas coxas. O horror a consumia, fazendo seu ar faltar, misturando-se ao odor que a envolvia. A lanterna continuava ligada, formando um pequeno espaço iluminado entre nós duas e seus novos amigos.
– Você só precisa me dizer quando quer que eu atire, ok? Se a bala não estiver lá, tudo bem. Tentaremos de novo e de novo. Mas não precisa ter pressa.
Saber que precisaria pedir para que eu atirasse fez seu medo crescer. Eu podia senti-lo, quase tocá-lo. Dançar com ele, comemorar e rir enquanto ele se tornava uma companhia agradável para mim e atormentadora para você.
– Até se sentir pronta... Apenas diga-me: Quais são os seus medos?

Anything but ordinary

(postado originalmente em 21 de novembro de 2010)

Sou resultados e experimentos. Uma reunião de cores e palavras, verdades e mentiras, sonhos e realidades, decepções e conquistas. Às vezes acredito que sou quem eu quero. Talvez eu seja exageradamente inacessível: Introspectiva, tímida e fechada. Não sei demonstrar sentimentos – às vezes não sei sentir. Não falo muito. Detesto chamar atenção. Sou tão observadora quanto distraída. Tenho fobia de multidões e de eletricidade. Gosto de ficar sozinha. Às vezes pareço arrogante, mas apenas brinco de ser irônica. Acho engraçado estudar as ações e reações das pessoas – embora não goste muito da maioria delas. Sou teimosa, impaciente, impulsiva ansiosa e um pouco desesperada. Irrito-me com uma facilidade inacreditável, sou ciumenta e inacreditavelmente possessiva. Às vezes penso como assassinos. Uma péssima garota.

Meu mundo é apenas meu. Sou extremamente seletiva com o que – e quem – entra nele e não gosto de precisar tirar nada de lá. É um processo doloroso. Guardo nele o que tenho de mais precioso: Eu mesma. Uma outra versão de mim. Uma menina tímida e ligeiramente engraçada, que possui crises de falar muito sobre coisas aleatórias. Amável, carente e carinhosa. Uma romântica incurável. Sonhadora. Apaixonada por animais e pela natureza. Aquela menina que possui um instinto maternal e protetor aguçados demais. Que gosta de cuidar, proteger e mimar as poucas pessoas que a cativaram. Ela tem um coração gigante e consideravelmente inocente. Ama desafios e adrenalina. Gosta de enfrentar seus medos. Gosta de detalhes e pode ser conquistada por eles. Uma ótima garota.
Filmes, música e literatura são uma parte essencial da minha vida, e de mim. Escrever é minha terapia. Sou imaginativa demais. Amo frio, chuva, tempestades, o céu escuro, praias e cachoeiras. Tenho um pouco de cada um dos sete pecados em mim. Não sei fingir muito bem. Tremo naturalmente e gaguejo de vez em quando. Tenho manias esquisitas. Passo mais tempo pensando em textos do que pessoas normais passariam. Amo a segunda guerra mundial. Tenho dificuldades para dizer não. Digo que esqueci ou perdoei, mas tenho uma dificuldade inenarrável para ambas as coisas. Tenho ideias dormindo. Amo matérias humanas...
Sou um retrato surrealista de todos os meus egos.

Tons castanhos

(postado originalmente em 17 de novembro de 2010)

Talvez os outros os vissem marrons. Simples, chatos. Iguais demais, comuns demais. Para ela, não eram apenas castanhos. Eram uma imensidão de tons que a prendiam com garras de aço. Que ela tinha aprendido a ler – ou eram eles que gritavam verdades por trás de palavras não ditas? Os tons gostavam de brincar, ir e vir, gritar no silêncio do olhar. Ela tinha o seu preferido: Aquele que a fazia lembrar de chocolate liquido. Era um tom quente, que a abraçava e envolvia. Vinha acompanhado de um brilho de alegria. Talvez felicidade ou paz. Inocência. Aparecia nos melhores momentos e transbordava, pingava, preenchia tudo o que pudesse alcançar. Era doce, também. Doce e dócil. Gentil. Daí – já que ela tinha aquele como preferido – vinham todas as outras variações: O mais áspero e gelado tom era o mais escuro: Quase completamente negro. Ela o odiava, ou o mais próximo que conseguia chegar disso. Tinha braços invisíveis capazes de agarrá-la pelo pescoço e sufocá-la. Aparecia nos piores momentos. Trazia consigo uma onda de frio, de descontentamento, de agonia. Às vezes de tristeza e de dor não faladas, mas gritadas em mais um silêncio enganoso. Aquele tom não pertencia àqueles olhos. Depois vinha aquele castanho ainda escuro que prendia. Desejava. Era mais um tom quente: Queimava. Incendiava. Por dentro, por fora, em silêncio, acompanhado de sussurros. E sentidos. E luxúria. E desejo, de novo. E de novo. Incansável. Outro dos preferidos. E quando a euforia do desejo se afastava, as cores retornavam àquele chocolate liquido do qual tanto gostava. Em seguida, ainda mais claros, os olhos ganhavam um tom de mel. Ainda doce, apetitoso. Geralmente acompanhado de sorrisos ou risadas. Era leve e macio. Infantil, divertido, maroto, manhoso. Uma criança. Combinava com aqueles olhos. Olhos de mudanças singelas que conversavam, riam, cantavam e brigavam com ela. Olhos que abriam uma porta para a alma, que não conseguiam esconder a verdade, que ela lia com uma clareza óbvia. Que pediam. Que tornavam a partida ainda mais difícil. Olhos que amavam. E ela se perdia e se encontrava e se abrigava e se prendia naqueles incontáveis tons castanhos.
ps: finalzinho foi uma brincadeirinha com algo da versão 3.0 de UTS, quem já leu entenderá. Um post inteiro sobre olhos. Uau! Alguém já enconrou um olhar assim? :B