quarta-feira, 6 de julho de 2011

Estrelas

(postado originalmente em: 14 de abril de 2010)

Quando a noite caía, o sol e os turistas eram substituídos pelo silêncio e o vazio. Agradáveis. Havia apenas as luzes dos postes e das casas do outro lado da rua – nenhum carro, o vento gelado vindo do mar e as ondas mansas. E ela.
Todas as noites, após o jantar, descia as escadas correndo, atravessava a areia fria e escalava a mistura entre mato e rochas. Sentava-se à beira de uma delas, passava alguns minutos sentindo a água gelada respingar em suas pernas enquanto as ondas quebravam em alguma rocha menor e depois observava as estrelas.
No inicio, sempre lhe ofereciam companhia. Mas nunca aceitava. Dizia esperar alguém. Com o passar do tempo, concluíram que simplesmente gostava da solidão. E não era, ao todo, uma mentira. Realmente gostava da companhia silenciosa da natureza e a imensa nuvem de sensações diferentes que vinham junto.
Naquele dia, não estava sozinha. Pela primeira vez. Fizeram o caminho costumeiro, sentando-se na beirada da rocha de sempre. A segunda, desprotegida do frio, aninhou-se manhosa em seus braços. Recebida com um sorriso orgulhoso, pensativo... E feliz.
Gostava de sensações novas. Havia demorado até conseguir descobrir, separar e decorar cada uma das que sentia naquele lugar e desconfiava que demoraria ainda mais agora que a tinha. Talvez aquela vida não fosse mais o suficiente, afinal, ela havia demorado demais para chegar. Quinze anos!
E agora, com tantas sensações para descobrir, uma única vida lhe parecia muito pouco. Como aproveitaria cada uma delas o suficiente? Como decoraria cada uma delas? Como descobriria cada uma delas? Se não o fizesse, não poderia senti-las sozinha depois. Restava-lhe uma única alternativa: Teria de levá-la consigo durante a vida inteira. Não que a idéia fosse ruim.
– Hey, olha. Uma estrela cadente.
– Eu sei. Ela aparece todos os dias.
– E você faz um pedido todos os dias?
– Sim. Não só para ela. Para todas.
– E algum já foi realizado?
– Eu faço sempre o mesmo.
– Por que?
– Porque é algo que eu quero muito, oras.
– Mas tantas vezes?
Yep.
– E não vai pedir hoje?
Nop.
– Por que?
– Elas atentaram ao meu pedido.
coisas escritas enquanto se espera o ônibus. 2beijos pra quem comentar :*

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